Saturday 23 June 2007

Quem sois vos???

Aos vinte e três dias do mês de Junho do ano de dois mil e sete, exactamente vinte e dois dias após a sua criação, o blog intitulado 'Palavras Vãs, Esforço Inglório' atinge o número cem no seu contador de visitas.

A autora saberia se este número corrende a vistas casuais, de web navegantes que acidentalmente tropeçaram no espaço, ou a assíduos leitores, que regularmente por aqui passam para ver o que de novo por aqui se diz, se se desse ao trabalho de clicar no botão que se encontra precisamente abaixo do contador. Esse botão levá-la-ia directamente à página que contém a estatística das visitas ao referido blog.

Seja pelo facto de a autora ser deveras preguiçosa, ou apenas pelo facto de serem já quarenta e sete minutos passados da uma da manhã, o facto é que a página das estatísticas vai ficar hoje 'inverificada'.

Apesar disso, a autora gostaria de saber a quem agradecer o facto de o seu blog ter atingido tal bonito número de visitas. Não é que goste particularmente do número. Se fosse a escolher, tenho a certeza que escolheria números muito mais engraçados para agradecer, menos redondos.

Mas cem é o número que sempre se anseava por atingir quando se andava na escola. Era sinal que nesse dia não havia aula, porque a aula número cem tinha de ser comemorada.

Ora, nem a propósito (recebi agora uma mensagem da autora, que se encontrava a vestir o pijama para se ir deitar a estas indecentes horas), a autora vai amanhã comemorar o orgulho de o seu blog ter atingido as cem visitas. Vai também comemorar outros orgulhos, mas isso não é conversa para estas horas.

A autora gostaria, então, de saber, de tomar conhecimento, dos assíduos leitores ou 'tropeçantes' viajantes que por aqui passam. Gostaria de saber, se lêem, se gostam, se apenas tropeçam e imediatamente fecham a janela. Se alguma vez volta. Porquê. Como aqui chegaram. O que acham das insanidades e baboseiras escritas. Enfim. Que dêem o vosso precioso contributo a este blog tão indispensável para o mundo!

Não, não é preciso ter um blog para deixar uma mensagem. É apenas preciso ter uma conta gmail.

Pois, discriminação... Infelizmente.

Vou pedir à autora que considere possibilitar os comentários a todos os visitantes, mas acho difícil que isso aconteça, a autora tem conhecimento de blogs bombardeados por comentários menos próprios. Claro que está accionada a moderação de comentários, mas por precaução, os comentários são apenas autorizados a visitantes com conta gmail. E abrir uma conta gmail, mesmo que apenas para comentar este blog, não é tarefa assim tão árdua.

Gostaríamos de saber quem sois, que passais e nada dizeis. Queremos saber se volteis, se algum tempo por cá fiqueis. Pedidos. Sugestões. Enfim. Baboseiras que também a vós vos venham à cabeça.

Com os melhores cumprimentos,
Pela autora,
Assina,

A gerência da barafunda.

Wednesday 20 June 2007

A Astucia da Canalha

É verdade, a partir de hoje já posso deixar o meu comentário do tópico 'já foram assaltados em Lisboa?'...

E a resposta seria, infelizmente, já, sim, sra!!!

E podemos perguntar qual a sensação???

Maravilhosa! Sentimos o sangue a começar a ferver e a correr na direcção dos nossos punhos. Desejamos apenas que as audazes criaturas nos apareçam à frente para vermos sangue como resultado do embate dos nossos punhos nos seus belos focinhos...

Felizmente, a maralha dá sempre bom uso às pernas!!!

Distração nossa, sim, há que confessar. Estávam mesmo a pedi-las... Pois, se calhar estávamos, mas isso não faz com que mereçamos! Não foi bem distracção, foi mais descontracção. O resultado não foi melhor por isso, infelizmente.

Ok, da próxima vez que tiveres a intuição de dizer, dá-me a tua carteira que eu levo-a, diz!!! Coitadinhos, sem carteira teriam levado a mala vazia...

A mala não tinha nada além da carteira e do telemóvel. O saco da comida já cá estava fora...

Porque é que uma boa companhia parece sempre uma má influência, algo que atrai má sorte?

Não penso que seja o caso, estamos apenas tão tranquilos, tão em paz com o mundo, que nos esquecemos que neste mundo há muitos que não o estão. Parece que todo o nosso sentido de responsabilidade, sensatez e bom senso se extingue à medida que nos abstraímos do que nos rodeia.

De outra forma, como seria possível que dois rapazes, ao passar a correr por nós, levassem com eles a mala sem que nós nos apercebessemos bem, sequer, do que se tinha passado??

Enfim, a cabeça não pode mesmo estar na lua, nem por um minuto que seja...

Fica a experiência para contar aos netos, as filas de espera nos bancos, a perda da lista telefónica*, a correria para substituir os documentos.

Ficam mais lembranças, mas essas nem aos netos se contam...

Pequenos conselhos:

Se forem assaltados na zona da expo:

1. não vale a pena perguntarem aos taxistas onde fica a esquadra mais próxima, eles vão indicar-vos Moscavide.

2. à frente do Casino Lisboa vão encontrar, de certeza, polícias, com grande probabilidade em grupo de 5, em rodinha, no corte-e-costura (expressão para indicar cuscovelhice ou maldizência...). É provável que um deles se encontre afastado do grupo, encostado à parede. Porquê? Só perguntando ao próprio...

3. a esquadra mais próxima é realmente a que se encontra dentro da estação da gare do oriente.

4. se tiverem tanta sorte como nós, o sr. agente é muito simpático.

5. contem com uma bela horinha a apreciar o uso de termos formais e pouco usuais inseridas em frases sem nexo.

6. não assumam que desejo que sejam assaltados. Longe de mim.

ps. Desculpa-me. Na situação mais semelhante a esta porque que passei, desatei a correr feita louca sem pensar nas consequências (raramente penso nas consequências, e esse é um dos meus maiores males...). Mas estava tão zen, num estado tão elevado de transcendência que não me apercebi nem do que tinha acontecido nem que tinha pernas... Era como se tivesse estado a usar asas durante horas e, de repente, não sabia que tinha pernas e as asas não me estavam a permitir voar...

* Já te deste conta que não tens o meu número escrito em mais lado nenhum... E que eu poderia agora desaparecer e não me conseguias encontrar... hehehe

Wednesday 13 June 2007

Ólh'a febra!!!

Ontem fui, pela primeira vez, aos santos.

Combinámos às 19h30 para jantarmos primeiro. Não tínhamos restaurante marcado... Não vamos, portanto, ter mesa no restaurante. Óbvio! Ou talvez só para mim.

Ok, vamos ao restaurante do teu amigo. Ele não marca mesas porque há sempre gente a entrar e a sair? Ok. Às 20h ainda não há lá ninguém, de certeza que arranjamos mesa?? Ok. Isto se alguma vez nos encontrássemos às horas que combinamos. Vamos de certeza chegar ao restaurante perto das 21h e o lugar vai estar a abarrotar! Achas que não? Ok.

21h, mais coisa menos coisa, lá estamos nós à porta do famoso restaurante. Pois, para mesa vai demorar cerca de 1h. Pois, como é lógico!

Podemos ir dar uma volta e voltar daqui a meia hora e depois esperar mais um bocadinho... Claro e jantar às dez da noite... Não! Eu vou às febras! Felizmente a maioria estava comigo!! Lá fomos nós à bifana. 2.50€ a bifana. E nós com vontades de um chouricinho a acompanhar, mas a 5€ perdemos logo a vontade. Acabada a ceia (duas míseras bifanas por não querer contribuir para a chulice daquele pessoal) lá vamos nós à nossa vida.

E agora, o que se faz? BEBE-SE!!!

Então e a que horas é que começam as marchas? Mas tu achavas que ias ver as marchas? Sim!

Então o que é que se faz aqui?? BEBE-SE!!! Ah, ok.

Alguém disse: se soubesses que isto era só para vir beber e dançar não tinhas vindo... Ao que respondi: basicamente!

E se fossemos beber um cafezinho ao famoso restaurante? Beber café? Às dez da noite?!?! Eu realmente, vivo noutro planeta...

Ah, já percebi, vamos passar a noite a subir e a descer a rua da Sé. Programa interessante em alternativa a ver as marchas (que não me lembro de ter alguma visto... mas queria ter ido...).

Acabado o cafezinho, a bela da música pimba!!! Ficamos já aqui! É que só podem estar a gozar com a minha cara!!!

Felizmente, passada uma longa meia hora (ok, talvez esteja a exagerar, mas com tanto comentário, oh mulher, bebe um copo para te desinibires, oh mulher, tens de apanhar uma bezana, oh mulher, solta-te, pareceu mais de meia hora...) a música começou a tornar-se um pouco mais agradável ao ouvido.

E pronto, lá abanei um pouco o corpito. Parece que afinal não danço assim tão mal... (deve ter sido apenas um comunicado simpático). Mas o mais engraçado é ver as minhas amigas surpreendidas por verem que afinal até me consigo abanar. Conhecemo-nos há não sei quanto tempo, estamos juntas quase todos os dias, como é que nunca me tinham visto dançar? Ok, apenas 3 delas já tinham visto, e uma única vez.

Pensando bem, acho que deve ter sido a 2ª vez que dancei em público sem estar toda presa!!! Pronto, está bem, já sei que não custa nada, já percebi... Sim, pode ser que me convençam a ir sair com vocês da próxima vez... Eu até gosto de dançar. Aliás, eu adoro dançar. No meu quarto, sozinha em casa. Fora isso, o meu corpo parece uma fortaleza. Ou parecia, pode o mal ter acabado!!!

Quando me disseram: esta rua daqui a pouco vai estar completamente cheia, o pessoal todo a roçar-se, só pensei: não acabo a noite sem dar um estalo nalgum. Felizmente, só dei uns (valentes) empurrõezitos a um gajo que já me estava a deixar fora do sério... Será tão difícil ver um grupo de 8 raparigas a dançar e deixá-las em paz???

Fora isso, o mais perto de estive de expressar um pouco mais agressivamente o meu desagrado foi durante o episódio da palhinha. EU NÃO BEBO ÁLCOOL. Nada, absolutamente nada!!! Eu bebo caipirinhas com água em vez de cachaça. Sim, eu bebo. Não, não sou maluca. Ou talvez seja. Escusam de insistir, EU NÃO GOSTO!!! É a mesma história do: se te esforçasses um bocadinho, se conhecesses o rapaz certo... Eu não quero conhecer o rapaz certo, nem esforçar-me por gostar do que não gosto!!!

Estava eu então com uma lata de sumol de ananás na mão e a palhinha na outra quando, para tirar o plástico à palhinha, meto a palhinha na boca e puxo o plástico. Ainda com a palhinha na boca e a enfiar o plástico da palhinha no bolso (porque, ao contrário do resto da malta, a mim não me custa andar 20m para me dirigir ao contentor do lixo, ou guardá-lo no bolso), passa um gajo por mim e puxa-me a palhinha da boca. E nem se torna a virar para trás. Estou eu já preparada a ir atrás dele, dar-lhe um puxão e arrancar-lhe a palhinha da mão, quano a Mafa diz, teve muita piada, desculpa, mas teve muita piada. Ok, leva lá a palhinha!!!

A noite parecia em vias de terminar de forma menos famosa quando o pessoal de uma casa no primeiro andar decide vir para a varanda e começar a dar banho de cerveja e champanhe ao pessoal. E a malta cá de baixo vai de atirar latas vazias lá para cima, e o pessoal lá de cima vá de mandar uma lata de cerveja cheia cá para baixo. A partir daí começam a voar cá de baixo, não só latas vazias, como garrafas vazias, pequenas e de 1L. O pessoal com os copos tem umas ideias um bocado para o chanfradas. Comprendo que se revoltem, mas atirar garrafas de 1L contra uma janela no primeiro andar para levar com os cacos é um bocado para o ridículo... O que vale é que a dona da casa arrastou os engraçadinhos para dentro de casa e fechou a janela.

Depois de uma noite de bailarico, o Santo António costuma prendar os seus habitantes com um belo feriado para a malta se estender na areia a estorricar. Ó meu querido Santo António, eu fiu à praia e apanhei chuvada. Faça calor ou faça frio, faça sol ou faça chuva, já que me dei ao trabalho de vestir o bikini, o melhor mesmo é molhá-lo.

Ó meu querido Santo António, a porra da água escusava era de estar tão fria!!!

Thursday 7 June 2007

O Planeta das Peugas Rotas, para a Gi

O Planeta das Peúgas Rotas

Nestes últimos dias, fui brigando com o tempo para alinhavar esta intervenção. Um colega meu surpreendeu-me sugerindo o seguinte: "Tu já fizeste uma comunicação chamada 'Os sete sapatos sujos'. Porque não escreves agora uma coisa chamada: as sete peúgas rotas?"

Aquilo não seria mais que um gracejo passageiro, mas quando cheguei a casa, abri uma revista e deparei com uma foto extraordinária ddo Presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz. O homem está sem sapatos na entrada de uma mesquita na Turquia e saltas à vista os dedos dos pés espreitando das meias furadas. A fotografia deu volta ao mundo e quem sabe, tratando-se de quem se trata, seja amanhã uma espécie de uniforme obrigatório para os banqueiros e bacários de do inteiro planeta.

De qualquer modo, entre a piada do meu colega e a fotografia da revista havia uma invulgar coincidência e acabei chamando a este texto "O Planeta das Peúgas Rotas".

A revista que reproduzia as fotos pretendia explorar o lado ridículo e caricato da situação. Para mim, porém, aquele flagrante apenas tornava um dos homens mais poderosos do mundo numa criatura mais próxima, mais humana. Quer dizer, o sapato pode ser muito diferente. Mas o dedo gordo que espreita da peúga do banqueiro é muito parecido com o dedo do mais pobre dos moçambicanos. Tal como qualquer um de nós, o Presidente do Banco Mundial esconde mazelas debaixo da sua composta aparência.

Os responsáveis do Millemmium bim disseram que o tema desta palestra era livre mas sugeriram, ao mesmo tempo, que eu falasse da Pessoa Humana. As peúgas descosidas podem, de repente, nos revelar mais humanos e tornamo-nos mais parecidos com alguém como o Presidente do Banco Mundial.

E começarei por contar um episódio que nunca contei em público e cuja revelação neste espaço me pode custar muito caro. Quem sabe se, depois de partilhar este segredo, acabarei por ver anuladas as minhas contas e me converterei eternamente numa
persona non grata para as finanças nacionais?

Aconteceu logo a seguir à independência. Eu estava em véspera de viagem para o exterior e, na altura, não havia as facilidades de que hoje usufruímos. O mais que um viajante poderia dispor era do chamado
traveller cheque. Para se emitir um traveller cheque era uma batalha complicadíssima, era quase necessário que o pepido fosse conduzido ao Presidente da República. Eu ia viajar por imperiosas razões de saúde e faltavam escassas duas horas para o embarque de avião e ainda eu estava no balcão do Banco numa desesperada tentativa de recolher os meus pobres cheques. No momento, um funcionário vagaroso me disse algo trágico:que os cheques, afinal, precisavam de duas assinaturas, a minha e a da minha esposa. Ora, a minha esposa estava no Hospital e não havia tempo para lhe levar os papéis. A única solução chegou-me no auge do desespero. Eu tinha que mentir. Disse ao funcionário que a minha esposa estava na viaturae que, em menos de um minuto, lhe traria os papéis já devidamente assinados.

Trouxe os documentos para fora do edifício e, à pressa, falsifiquei a assinatura da minha esposa. Fiz aquilo sobre pressão dos nervos e sem ter à minha frente um modelo para copiar. A rúbrica ficou péssima, era uma cópia ranhosa, detectável a milhas de distância. Regressei correndo, enteguei a papelada e fiquei à espera. O homem entrou para um gabinete, demorou um pouco e, depois, voltou com ar grave para me dizer: desculpe, há uma assinatura que não confere. Eu já esperava aquilo mas, ainda assim, desmoronei, sob o peso da vergonha. O melhor, pensei, é falar a verdade. E já tinha começado a falar, é que, camarada, a minha esposa... quando o funcionário me interrompeu para dizer esta coisa espantosa: a assinatura da sua esposa está certa, a sua assinatura é que não confere. Como podem imaginar, fiquei sem palavra e passei os minutos seguintes ensaiando a minha própria assinatura ante o olhar desconfiado do funcionário. Quanto mais tentava menos era capaz de imitar a minha própria letra. Nesses longos minutos eu pensei: vou ser preso não por ter forjado a assinatura de outra pessoa. Vou ser preso por forjar a minha própria e autêntica rúbrica.

Conto esta história porque o tema que me sugeriram para falar aqui é sobre a pessoa humana. Nessa altura, perante os malfadados
travellers cheques, eu senti essa experiência curiosa de alguém que é surpreendido em flagrante delito de ser ela própria. A verdade é que nós somos sempre não uma, mas várias pessoas e deveria ser norma que a nossa assinatura acabasse sempre por não conferir. Todos nós vivemos com diversos eus, diversas pessoas reclamando a nossa personalidade. O segredo é permitir que as escolhas que a vida nos impõe não nos obriguem a matar a nossa diversidade interior. O melhor nesta vida é poder escolher, o mais triste é ter mesmo de escolher.

Caros amigos

As palavras moram tão dentro de nós que esquecemos que elas têm uma história. Vale a pena interrogar a palavra "pessoa" e é isso que começo por fazer, de modo simples e sumário. A palavra "pessoa" vem do grego antigo
Persona. Este termo Persona tem a ver com máscara, tem a ver com Teatro. Persona era o espaço que ficava entre a máscara e o rosto, o espaço onde a voz ganhava sonoridade e eco. Na sua orige, a palavra "pessoa" referia um vazio que era preenchido por um fingimento, o fingimento do actor que, tal como eu perante o traveller cheque, representava um outro personagem. Veremos que não estamos longe, em que nos escondemos por trás de um máscara na encenação dessa narrativa a que chamamos vida.

Nas línguas do Sul de África, a palavra "pessoa" é uma categoria particularmente interessante. Um linguista alemão notou no século XIX que muitas línguas africanas do Sul do Sahara diziam "pessoa" usando basicamente a mesma palavra:
mantu, no singular, e bantu, no plural. Ele chamou a esses idiomas de "línguas bantus" e, por extenção, os próprios povos passaram a ser designados de "povos bantus". O que é estranho porque, à letra, se estaria dizendo que existe um conjunto de povos a quem se chama os "povos pessoas". Recordo-me de um tocador de mbira, um camaronês chamaso de Francis Bebey que encontrei na Dinamarca.Perguntei-lhe se tocava música bantu e ele riu-se de mim e disse: meu amigo, os chineses são tão bantus como os africanos.

De qualquer modo, a ideia de pessoa em África tem origem diferente e percorreu caminhos diversos da concepção europeia que hoje se globalizou. Na filosofia africana cada um é porque é os outros. Ou dito de outro modo: eu sou todos os outros. Chega-se a essa identidade colectiva por via da família. Nós somos como uma escultura
maconde ujaama (Ujaama significa Unidade), somos um ramo dessa grande árvore que nos dá corpo e nos dá sombra. Distintamente daquilo que é hoje dominante na Europa, nós olhamos a sociedade moderna como uma teia de relações familiares. Como veremos, esta visão tem dois lados: um lado positivo que nos torna abertos e nos conduz àquilo que é universal; e um outro lado, paroquial e provinciano que nos aprisiona na dimensão da nossa pequena aldeia.

A ideia de um mundo em que todos somos parentes é muito poética, mas pode ser pouco funcional. Todos conhecemos o discurso do moçambicano comum: o governo é o nosso pai, nós somos filhos dos poderosos. Esta visão familiar do mundo pode ser perigosa, pois convida à aceitação de uma ordem social como se ela fosse natural e imutável. A modernidade está soprando nos nossos ouvidos algo muito diverso que obriga a um rasgão dentro de nós. Ao contrário dos pais que não se escolhem, os dirigentes escolhem-se. A empresa e a instituição não são um grupo de primos, tios e cunhados. A sua lógica de funcionamento é impessoal e obedece a critérios de eficiência e rentabilidade que não se compadecem com compadrios de parentesco. Podem usar sapatos com ou sem meias furadas. Difícil é usar peúgas sem sapatos.

Temos que nos pensar num mundo em rápidas transformações. A velocidade de mudanças na sociedade moderna faz com que certas profissões se tornem rapidamente obsoletas. No Brasil, por exemplo, a computarização do Sector bancário reduziu 40 por cento dos empregos nos últimos sete anos. Isso implica mudanças dramáticas com impactos sociais graves. Estamos na crista da onda de mudanças que não são apenas tecnológicas.

Os telefones celulares são um exemplo de alguma coisa que deixou de ser apenas uma coisa, um simples objecto utilitário. Os telemóveis passaram a fazer parte de nós, tanto que, se nos esquecemos deles, ficamos vazios, desarmados como se tivéssemos deixado em casa um braço que não sabíamos que tínhamos. Esta subtil ocupação vai para além das nossas vidas privadas. O crime organizado, por exemplo, passou a ser comandado a partir das prisões. As notícias que se seguiram depois do julgamento do caso do assassinato de Carlos Cardoso mostraram-nos o que outros já sabiam. Prisioneiro não é o que está dentro das paredes gradeadas. Prisioneiro é quem não tem acesso ao telemóvel.

A própria noção de distância deixou de ser medida em termos de quilómetros. Queremos saber se para onde vamos há rede telefónica. O fim do mundo é onde não há cobertura de antena.

É verdade que as novas tecnologias não costuram os buracos na nossa roupa interior mas elas ajudam a alterar as redes sociais em que nos fabricamos. Em nuitas línguas africanas a palavra para dizer "pobre" é a mesma que diz "órfão". Na realidade, ser pobre é perder as redes familiares e de aliança social. Mora na pobreza quem perdeu o amparo da família. Num futuro muito breve, o verdadeiro órfão é aquele que não dispõe de computador, celular e cartão do Banco.

Mas nós vivemos uma sociedade que tem uma característica muito curiosa: aqui se glorifica o indivíduo mas se nega a pessoa. Parece um contra-senso mas não é. Afinal, há distâncias entre estas duas categorias: indivíduo e pessoa. O que nos faz ser pessoa não é o Bilhete de Identidade. O que nos faz ser pessoa é aquilo que não cabe no BI. O que nos faz pessoas é o modo como pensamos, como sonhamos, como somos outros. Estamos, enfim, falando de cidadania, da possibilidade de sermos únicos e irrepetíveis, da habilidade de sermos felizes.

Um dos problemas do nosso tempo é que perdemos a capacidade de fazermos as perguntas que são importantes. A escola nos ensinou a dar respostas, a vida nos aconselha a que fiquemos quietos e calados. Uma das perguntas que pode ser importante é esta: o que é que nos dificulta o caminho para transitarmos de indivíduos para pessoas? O que precisamos para sermos pessoas a tempo inteiro?

Não tenho pretenção de invocar as respostas certas. Mas tenho a impressão de que um dos principais problemas, um dos maiores buracos na nossa peúga, é pensarmos que o sucesso não é fruto do trabalho. Para nós o êxito, em qualquer área, surge como resultado daquilo que chamamos de boa sorte. Resulta de se ter bons padrinhos. O sucesso resulta de quem se conhece e não daquilo que se conhece.

Uma das edições do jornal "Notícias" desta semana abria com uma notícia sobre o monte Tumbine, na Zambézia. Em 1998, cerca de 100 pessoas morreram naquele lugar por causa de um abatimento de terras. As terras desabaram porque se retirou a cobertura florestal das encostas e as chuvas arrastaram os solos. Foram feitos relatórios com recomendações muito claras. Os relatórios desapareceram. A floresta voltou a ser cortada e as pessoas voltaram a povoar as regiões perigosas. O que resta de Tumbine são as vozes que têm uma outra explicação. Essas vozes insistemna seguinte versão: há um dragão que mora no Monte de Tumbine em Milange e que desperta de 5 em 5 anospara ir deitar os ovos no alto mar. Para não ser visto, o dragão cria o caos e a escuridão enquanto atravessa os céus desapercebido.

(Agora uma sugestão à parte e apenas para uma questão de conferência de assinaturas, se por acaso aparecer esta criatura num balcão do Banco: o dragão que voa no Norte chama-se Napolo e aqui, no Sul, chama-se Wamulambo. Mas é o mesmo cliente).

Existe uma poderosa força poética nesta interpretação dos fenómenos geológicos. Mas a poesia e as cerimónias dos espíritos não bastam para assegurar que uma nova tragédia não se venha a repetir.

A minha pergunta é: estamos nós aqui assim tão longe dessas crenças? O facto de vivermos em cidades, com arranha-céus, no meio de computadores e da internet de banda larga, será que tudo isso nos isenta de termos um pé na explicação mágica do mundo?

Basta olhar para os nossos jornais para termos a resposta. Junto da tabela da taxa de câmbio se encontra o anúncio do chamado médico tradicional, esse generoso personagem que se propõe resolver problemas básicos da nossa vida. Se percorrerem a lista dos serviços oferecidos por esses médicos tradicionais verificarão que figuram os seguintes produtos: (vou citar os feitos propagados, saltando os milagres conseguidos na saúde) faz subir na Vida; ajuda a promoção no emprego; faz passar no exame; ajuda a recuperar o esposo ou esposa. Parodiando a linguagem moderna dos relatórios, eu referi, um por um, os
outputs do job description do nosso glorioso médico tradicional. Numa palavra, o atirador de sortes faz surgir por magia tudo aquilo que só pode resultar do esforço, do trabalho e do suor.

De novo, interroguemos as palavras que nós próprios criamos e usamos. Na realidade, "médicos tradicionais" é um nome duplamente falso. Primeiro, eles não são médicos. A medicina é um domínio muito particular do conhecimento científico. Não há médicos tradicionais como não há engenheiros tradicionais nem pilotos de avião tradicionais. Não se trata aqui de negar as sabedorias locais, nem de desvalorizar a importância das lógicas rurais. Mas os anunciantes não são médicos e também não são tão "tradicionais" assim. As práticas de feitiçaria são profundamente modernas, estão nascendo e sendo refeitas na actualidade dos nossos centros urbanos.

(Um bom exemplo dessa habilidade de incorporação do moderno é o de anúncio que eu recortei da nossa imprensa em que um destes curandeiros anunciava textualmente: curamos asma, diabetes e borbulhas; tratamos doenças sexuais e dores de cabeça; afastamos má sorte e... tiramos fotocópias.)

Durante muito tempo, era interdito aos verdadeiros médicos fazerem publicidade nos órgãos de informação. E, no entanto, esses outros chamados de tradicionais tinham permissão de se anunciarem.

Porquê esta complacência? Porque, no fundo, nós estamos disponíveis para acreditar. Nós pertencemos a esse universo, mesmo que, em simultâneo, já pertençamos a outros imaginários. Não são apenas os pobres, os menos educados que partilham esses dois mundos.São quadros de formação superior, são dirigentes políticos que procuram a bênção para serem promovidos e para terem sucesso nas suas carreiras.

Não creio que seja eficaz simplesmente condenar essas práticas. Mas temos de as assumir com mais verdade. Regressandoao título desta palestra, temos que aceitar que, por debaixo da capa do sapato há uma espécie de ventilação especial nos nossos pés. De pouco vale a pena dizermos que se trata de coisas tipicamente africanas. Meus amigos, essas coisas existem em todo o mundo. Não fazem parte da chamada natureza exótica dos africanos. Fazem parte da natureza da pessoa humana. O que podemos dizer no nosso caso é que essas crenças possuem ainda um peso determinante. E esse peso entra em contradiçãocom algumas exigências do mundo de hoje. A crença na chamada boa sorte faz com que nos demitamos na nossa responsabilidade individual e colectiva. Esse é um problema central para o nosso desenvolvimento. Porque essa visão do mundo nos leva a explicar os nossos insucessos pela existência de uma mão escondida. Se falharmos é porque alguém tramou um mau-olhado. Não nos assumimos como cidadãos fazedores e responsáveis. Não produzimos o nosso destino: mendigamos a forças poderosas que estão para além de nós. Ficamos à espera da bênção e do bafejo da boa fortuna.

Tudo isto tem a ver com algo mais abrangente e mais sofisticado que é a teoria do
complot. Satisfazemo-nos em explicar tudo por razões de alguma conspiraçãourdida nas nossas costas. É o receio da feitiçaria conduzido para a análise política. O caso recente das madeiras é um bom exemplo da aplicação da teoria da conspiração. Um grupo de compatriotas nossos denunciou aquilo que consideravam ser a destruição eminente do nosso património florestal. O alerta era grave, podemos estar a perder não apenas parte do nosso meio ambiente mas estarmos desperdiçando uma das principais armas para combater a pobreza. A reacção contra este protesto não se fez esperar: artigos diversos apontam numa mesma direcção. A preocupação com as florestas provinha de um grupo bem intencionado mas manipulado por forças ocidentais que se mobilizam contra a presença chinesa em África. Eis a mão obscura que tudo comanda. Tal como na lógica da feitiçaria a identificação do malvado resolve, à partida, o problema. Levantadas todas as poeiras, esgrimidas todas as suspeições, o assunto das florestas deixará de ser visível. A pergunta é simples: não seria mais fácil criar uma comissão científica que inventariasse o verdadeiro estado actual e avaliasse as tendências de abate da nossa madeira? O assunto, meus amigos, é demasiado sério para fingirmos que estamos fazendo alguma coisa apenas porque levantamos a suspeita de uma conspiração internacional. A verdade é que se perdermos a floresta perdemos uma das maiores reservas de riqueza, o maior banco vivo do nosso território nacional

Caros amigos

Referi a ideia de má ou boa sorte como algo que mata a capacidade empreendedora, como algo que consolida o espírito da vítima. Referi esse convite constante para pensarmos que, para mudar o mundo, a única coisa que nos resta é pedir, lamentar e reclamar.

Faço uma outra confidênica. A empresa em que trabalho abriu um concurso para jovens que fizessem inquéritos nos bairros de Maputo. Concorreram centenas de jovens e parecia claro que as duas dezenas que conseguiram o lugar o defenderiam com unhas e dentes. Logo no primeiro ensaio, porém, uma meia dúvida se apresentou cheia de queixas e reivindicações: que não podiam trabalhar ao Sol, que o trabalho era muito cansativo e necessitavam de mais repouso, que precisavam de um subsídio para comprar chapéus e sombreiros... Este espírito, meus amigos, é o de uma nação doente. Um país em que os jovens pedem antes de darem qualquer coisa é um país que pode ter hipotecado o seu futuro.

O que eu noto é que, a par de uma abnegação limitada, nós sofremos ainda do complexo de que merecemos mais que os outros porque sofremos no passado. A História está em dívida connosco, é isso que pensamos. Mas a História tem dívidas com todos e não paga a ninguém.
Não recomendo a ninguém que deixem que a História abra conta nos vossos balcões. Não houve povo que não sofresse, em algum momento, terríveis prejuízos. Nações inteiras foram reduzidas a escombros e renascem por causa do trabalho e esforço de gerações. O nosso próprio país foi capaz de se afastar das cinzas da guerra. Invocar o passado para que se tenha pena de nós e ficar à espera que alguém nos compense é pura ilusão.

Como sobrevivemos à custa de favores pedimos ao mundo que nos faça favores e nos conceda privilégios e compensações especiais. Esse posicionamento de vítimas a quem o Mundo tem que pagar uma dívida sucede como nação e como cidadãos. Ou nós as conquistamos ou nunca chegaremos lá. O valor de Lurdes Mutola deriva de ela ter vencido todo um historial de dificuldades. Imaginemos que Lurdes Mutola, em lugar de treinar a sério, faria a exigência de partir uns metros à frente das suas adversárias, argumentando que era pobre e vinha de um país martirizado. Mesmo que ela ganhasse, a sua vitória deixaria de ter qualquer valor. O exemplo parece ridículo mas é este exercício do "coitadismo" que praticamos vezes sem conta. A solução para o desfavorecido não é pedir favores. É lutar mais do que outros por um mundo onde não sejam precisos mais favores.

Um outro buraco nas nossas peúgas (este é um buraco do tamanho da própria peúga) é a nossa tendência de culpabilizar os outros pelos nossos próprios erros. Perdemos o empergo não porque faltamos consecutivamente sem justificação. Perdemos a namorada (ou namorado) não porque amamos pouco e mal. Reprovamos no exame mas não foi nunca por falta de preparação. Esses deslizes são por nós explicados pela evocação de demónios cuja existência é profundamente cómoda. A construção de diabos é, afinal, um investimento a prazo: a nossa consciência pode dormir à sombra dessas ilusões.

Esta não é doença exclusivamente nossa. Nos dias de hoje, estamos assistindo a um dramático exemplo dessa fabricação de fantasmas: diariamente no Iraque se matam civis inocentes em nome de Deus, em nome da luta contra um demónio que são os outros. José Saramago disse: "Matar em nome de Deus faz desse Deus um assassino."

Vivemos ainda sentimentos de profunda intolerância religiosa, étnica e racial. É muito mais fácil a explicação mentirosa de que os culpados são os outros, os da outra raça, os da outra religião, do que aceitar que precisamos de mudar tanto como os outros.

E regressamos à questão da pessoa humana. Ao longo da História, as operações de agressão aos outros começam por curiosamente por despessoalizar esses mesmos outros. Por assim dizer esses - os inimigos - não são pessoas humanas como nós. A primeira operação na guerra dos EUA contra o Vietname não foi de ordem militar. Foi de ordem psicológica e consistiu em desumanizar os vietnamitas. Eles já não eram humanos: eram amarelos, eram seres de outra natureza sobre os quais não haveria problema de ética em lançar bombas e
napalm.

O genocídio no Ruanda foi aqui perto e não muito distante no tempo. Comunidades que conviviam em harmonia foram manipuladas por elites criminosas ao ponto de se ter cometido o maior massacre da história contemporânea. Se antes de 1994 perguntássemos a um tutsi ou a um hutu se acreditava que aquilo poderia acontecer no seu país eles declarariam que isso era inimaginável. Mas sucedeu. E sucedeu porque a capacidade de produzir demónios é ainda muito grande nos nossos países. Quanto mais pobre é um país maior é a capacidade de se destruir a si mesmo.

A partir de Abril de 1994 e durante 100 dias consecutivos mais de 800.000 tutsis foram assassinados pelos seus compatriotas Hutus. Machados e catanas foram usados para chacinar 10.000 pessoas por dia, o que dá uma média de 10 pessoas por minuto. Nunca na História humana se matou tanto em tão pouco tempo. Toda esta violência foi possível porque se tinha trabalhado para provar, uma vez mais, que os outros, não eram pessoas humanas. O tempo escolhido pela propaganda Hutu para falar dos Tutsis era de
cockroaches, baratas. A matança estava assim isenta de qualquer objecção moral, estava-se matando insectos e não pessoas humanas, compatriotas falando a mesma língua e vivendo a mesma cultura.

No vizinho Zimbabwe, o discurso da unidade que marco o início de uma sociedade multiracial foi, subitamente alterado para uma agressão marcadamente racista. O Vice-Presidente do Zimbabwe, Jospeh Msica, num comício na cidade de Bulawayo disse textualmente: "Os brancos não são seres humanos". Ele apenas estava repetindo o que Robert Mugabe já havia proclamado. E eu cito as palavras de Mugabe: "O que odiamos nos brancos não é a sua pele mas o demónio que emana deles". Os dirigentes da ZANU tinham-se distinguido, poucos anos antes, como defensores de uma nação multi-racial. O que tinha mudado? Mudou o jogo de forças. A ambição pelo poder rpovoca mudanças surpreendentes nas pessoas e nos partidos.

Estamos certos que, em Moçambique, essas nuvens sombrias são distantes e pouco prováveis de alguma vez acontecerem. Esse é um motivo de orgulho no presente e de confiança no futuro. Mas esta certeza necessita de que não esqueçamos as lições de uma história que é também a nossa.

Caros amigos

Pediram-me que falasse da pessoa humana. É um universo vasto, sem limites de quem ninguém se pode dizer especialista. Fui forçado a escolher uma pequena parcela dessa tela infinita. Falei deste mal é que a demissão das nossas responsabilidades, da deserção das nossas capacidades. Falei da dependência de um modo de vida em que tudo se consegue por favores, por cunhas e benesses.Falei de tudo isto porque o sistema bancário é profundamente vulnerável e permeável a este tipo de situações.

A nossa verdadeira questão enquanto nação é sermos capazes de produzir mais riqueza. Mas não congundirmos riqueza com dinheiro fácil. Uma certa vez fiz uma intervenção sobre essa obsessão de enriquecer rapidamente e de qualquer maneira. Fui atacado pelo argumento demagógico de que eu não queria ver moçambicanos ricos. Eu termino hoje reiterando aquilo que sempre defendi. O meu anseio não é apenas ver moçambicanos ricos no verdadeiro sentido da palavra riqueza. O meu anseio é ver todos os moçambicano partilhando de uma mesma riqueza. Só essa riqueza nos fará mais pessoas e mais humanos.


Mia Couto

Monday 4 June 2007

P!nk - Dear Mr. President (Featuring Indigo Girls)

Relaxation Moment

Take the Lizzy the Lezzy Muff Muncher Quiz!










Coming out historias, pela propria...

Introducing Lezzy the Lizzy - Muff Munching Lesbian Animation Stand up Comedy

Atenção, pode conter linguagem imprópria... Não recomendado, portanto, a pessoas sem sentido de humor!!!

Lizzy the Lezzy

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Lizzy the Lezzy 2

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Não percam a oportunidade de passar pelo myspace de Ruth Selwyn, a criadora de Lizzy the Lezzy, e ver todos os videos da Lizzy (não são muitos, desde Out 2006) e conhecer os seus amigos.

Existe também a página pessoal da Lizzy, www.lizzythelezzy.com. Mais óbvio, impossível.

Espero que se divirtam.

Alguem me explica???

Não vejo muito televisão, é verdade. Talvez esteja fora do espírito, não sei.

Não tenho paciência. Ligueira incapacidade para estar quieta. Consigo estar horas ao computador, é verdade. Também e verdade que não tenho feito muito mais além disso, nos tempos que correm. Mas o que vocês não sabem é que nem ao computador estou quieta. Nem o raio dos dentes eu consigo lavar quietinha, em frente ao espelho e ao lavatório. Até já dou por mim, em qualquer divisão da casa, a lavar os dentes com a mão esquerda porque a direita está momentaneamente ocupada com qualquer tarefa demasiado delicada para a mão esquerda.

Não, não sou hiperactiva. Está na moda... Crianças irrequietas são hiperactivas. Adultos stressados são bipolares. Adolescentes são adolescentes. Esses ao menos têm sempre desculpa, é da idade, acaba por passar. (Pois, paizinhos, mas existem umas quantas coisinhas que não são da idade, que não acabam por passar. E ainda bem!) Todos os putos da minha família têm energia para dar e vender. Não, não são hiperactivos. Por favor, parem de perguntar. É suposto os putos não parerem quietos, é suposto treparem tudo, é suposto fazerem asneiras. Quantos são os adultos que não fazem asneiras?? É suposto estarem SEMPRE SUJOS, MESMO QUE LHES MUDEM A ROUPA 20 VEZES POR DIA. Mudem mais uma, faça assim tanta diferença? Gasta-se muita água? Gasta-se muito dinheiro em roupa que todos os dias chega a casa rota? Deixem os putos andar todos cagados, deixem os putos andar todos rotos. Eles não são bonequinhos pequenos que os papás levam a passear. Um parque infantil não é um desfile de moda... Por favor, deixem as crianças ser crianças, deixem-nas brincar. DEIXEM OS PUTOS ESFOLAR OS JOELHOS, PARTIR OS QUEIXOS E A CABEÇA. Haverá maior felicidade do que ver a expressão de alegria na cara de um puto a chafordar-se todo numa poça de lama??? Parem de invejar a sua felicidade, a sua inocência, a forma como para eles o mais simples se tranforma em alegria, em felicidade. Eles não invejam a nossa felicidade. Eles adoram ver-nos felizes. De preocupar é ver uma criança calada e quieta. Ai que vontades de dar umas bufetadas às maezinhas quando ouço: 'Francisco, venha cá. Olhe que lhe dou um estalo! Matilde, esteja quieta, não suje o vestido, que vamos jantar com a Bé. Frederico, se dá um chuto nessa bola fica de castigo o resto do mês!' Coitados, de castigo já eles parecem estar para o resto da vida... Deixem as crianças ser crianças e aprendamos nós a ser de novo crianças. Deixem-nos continuar a lembrar-nos que fomos também um dia como eles, que sabíamos como ser fellizes, que sabíamos encontrar a felicidade nas coisas simples da vida e aproveitá-la. E como a aproveitávamos! Agora é que precisamos de explicação para tudo, razão para tudo. Porquê? Deixem-nos continuar a lembrar-nos que a criança que outrora fomos estará sempre em nós. Sim, porque eu gosto de observar o comportamento das pessoas, e os adultos também se riem, também dizem e fazem disparates, também se sentem felizes quando alinham nas brincadeiras dos putos. A próxima que te pedirem 'mãe, pai, tio, prima, avô, avó, irmão, irmã, anda jogar à bola, anda andar de bicicleta, de skate, de patins, etcs e tais' não penses, e muito menos respondas, já estou velho(a) para isso. Não penses, vai. Depois, primeiro olha para o ar de satisfação e felicidade da criança que acompanhes, depois, olha para a tua e vê se encontras diferença...

Não é que não consiga estar quieta, também não é isso. Adoro momentos calmos, adoro estar deitada a ouvir o mar ou uma música calma. A olhar a lua (mas o que há entre ti e a lua? Não sei, mas sou completamente alucinada, é indescritível o que sinto quando olho para ela...). Adoro ler sentada na relva, estar à sombra de uma árvore a ver o mundo passar. Mas tudo isso é apenas possível em tempos de paz de espírito e tranquilidade interior. Infelizmente, estamos em amor em tempos de cólera.

Não consigo estar sentada a ver televisão porque simplesmente não dá nada de jeito (pois, não tenho os canais das séries...). Mesmo quando qualquer coisa é interessante, são 5 minutos de interesse para 30 minutos de publicidade, o que é suficiente para me esquecer que interesse teria o suposto programa interessante que minutos antes estava interessada em ver. E se ainda os anúncios fossem eles prórpios interessantes. Sinto-me estupidificada ao ver publicidade. E consigo apenas pensar, mas esta gente acha mesmo que somos estúpidos o suficiente para ficarmos sentados a olhar para esta merda??? É suposto os intervalos durarem alguns segundos, o suficiente para se ir a correr à casa de banho. Ok, o suficiente para 5 pessoas irem à mesma casa de banho. Claro que se os intervalos são para ir à casa de banho, os anúncios podem muito bem ser estúpidos. Mas a não ser que estejamos todos igualmente de diarreia como estamos de diarreia mental, não acho necessário meia hora de publicidade cada 10 minutos... E cada um é sempre mais estúpido que o outro. Não, eu estou enganada, o próximo vai ter piada, é suposto os comerciais terem piada, ou serem informativos. A combinação seria excelente. O próximo vai ser melhor. Ainda bem que desisti de esperar...

Não consigo perceber a lógica dos anúncios. Primeiro vejo uma mulher a entrar na Multiópticas e a pedir uma sopa ou sei lá. Ok, tenho a confessar que achei muita piada ao puto que lá entrava para comprar preservativos. Excelente. Mas só porque o outro funcionou, não quer dizer que tudo funcione. Porque é que puxam a corda sempre mais do que ela aguenta? Já parece os filmes, gostamos de um filme, têm logo de fazer 37 versões. É até esgotar a paciência. Felizmente, nem sempre acontece. Mas infelizmente o primeiro é sempre o melhor, e ao fim dos seguintes parece sempre que faltou qualquer coisa. À excepção do Sr dos Anéis, hehe. Outro maravilhoso anúncio, este bem pior na minha hummilde opinião, é aquele do pessoal que vai ao médico com uma garrafa colada à língua. Para não falar de a recepcionista ter um decote até ao umbigo. Tivessem eles posto uma senhora de 50 anos no papel de recepcionista, já eu achava a coisa mais real, ou um homem, já eu achava a coisa mais desesteriotipada. Algora a sério, alguém me consegue explicar se esse anúncio tem algum sentido/significado? Se sim, qual? Acho que é da green, da super bock. A super bock costumava ser uma marca com publicidade que eu considerava engraçada e bem bolada. Não tenho a certeza, marcas de cerveja não é muito comigo, mas acho que sim... Detesto ser decepcionada! Se calhar fica-se mesmo lá com a língua colada, não sei, nunca bebi uma green. Mas sinceramente, não acho necessário enfiar a língua no gargalo da garrafa para beber cerveja...

Sim, reparei que todos os parágrafos começam pela palavra não. Devo estar em negação, não sei bem é de quê...

Saturday 2 June 2007

Nao custa nada!!!

Um esforço para tentar compreender quem não me compreende.

Mas se nem eu me compreendo a mim própria...

Aaaaaaaa, tentar não custa.

O que eu queria mesmo compreender é porque é que há pessoas que não compreendem.

Ou será que compreendem e não querem é aceitar?

Ou será que aceitam e não querem é compreender?

Na volta vai tudo dar ao mesmo...

E porque é que em vez de tentar compreender quem não compreende, eu não tento compreender porque não compreende quem não compreende? Ou porque não compreendo eu quem não compreende?

É que não compreendo nem aceito!

Filosofia barata...

Ora ver, onde é que eu posso arranjar, digamos, um número estatisticamente significativo para tentar compreender com significado estatístico, e deixar escrito e estatisticamente provado, porque é que há quem não nos (queira) compreender.

Quantas razões poderão haver?

De quantas pessoas preciso?

Sai uma fornada de homofóbicos, queiram distribuir os questionários.

Responde apenas se tiveres coragem de me olhar nos olhos e dizer ‘detesto fufas e maricas!’

1. Conheces alguém que não se enquadre na tua definição de hetero?

2. Tens uma relação de amizade com essa pessoa?

3. Alguma vez tentaste perguntar-lhe a sua orientação sexual ou abordar o assunto sem te dirigires especificamente à pessoa?

4. Não.

a. Por vergonha?
b. Por achares que a pessoa se sentiria desconfortável?
c. Porque tu te sentirias desconfortável?
d. Por desinteresse?
e. Porque nojo?
f. Por não te interessar o que os teus amigos fazem na cama?
g. Outra. Qual?

5. Tens algum(a) amigo(a) assumidamente orgulhoso por ser diferente?

6. Alguma vez discutiram o tema?

7. Tiveste alguma situação em que te sentisses abusado por essa pessoa?

8. Procuraste alguma vez informar-te sobre quem não é igual a ti?

9. Achas que sentimos o amor de forma diferente?

10. Que amamos e sofremos de forma diferente?

11. Consideras o nosso amor impuro? Impróprio?

12. Seremos assim tão diferentes? Não teremos todos que percorrer as mesmas etapas na vida?

13. Porque te sentes ameaçado?

14. Que te leva a achar que não merecemos o teu respeito?

15. O que temes?

16. Nada. Então porque te intitulas homofóbico, cuja segunda palavra que constitui o termo deriva da palavra grega fobos que significa apreensão, medo, pânico?


Obrigada pela ajuda.
Mesmo que não nos compreendas, gostávamos de te compreender.
Mesmo que não nos aceites, gostávamos de te aceitar.
É difícil para ti? Para nós também. Mas estamos dispostos a tentar. E tu? Atreves-te? Basta dispores-te a ouvir. E a aceitar que todos temos uma palavra a dizer.

Mas que raio... ???

Ah, mas e que reunião é essa acerca de que tanto falas, que tão indecisa estás acerca de comparecer???

Pois...

Apologies...

My bad...

www.ex-aequo.web.pt

Encontram lá todas as informações.

O que não encontrarem, é perguntar no fórum.

Há lá uns Srs. e umas Sras. que terão todo o prazer em esclarecer-vos as vossas dúvidas.

Posso tentar, mas não prometo nada...

E depois é aparecer nas reuniões.

Eu ainda não fui.

Mas estou para ir.

Diz que tinha de se subir uma rua muito íngreme, que ficava mesmo lá no topo, que o pessoal acaba por ir às reuniões porque olhava para trás e ficava com vertigens.

Agora é num sítio plano.

Qual é a piada?

O que vou ter eu para dar emoção ao relato do acontecimento, se nem uma ruazinha tenho para subir...

Enfim, lá terei de pensar em qualquer coisa!

Os incentivos...

... de quem já lá esteve.

Testemunhos da primeira reunião...

... do pessoal de Lisboa. Desculpem, mas só li os testemunhos no fórum Lxx...

- Qual o teu maior receio? Era válido?
- Tiveste alguma ansiedade quando te dirigiste a nós?
- Foste bem acolhido?
- A reunião realizou-se de acordo com as tuas expectativas?
- Fizeste amigos?
- Ficaste com vontade de regressar?
- Etc.

Estas eram as questões. Ou melhor, um exemplo dos tópicos a desenvolver quando a experiência da primeira reunião fosse descrita.

Tenho uma certa dificuldade em seguir as coisas à risca. Não consigo sequer seguir a ordem de qualquer coisa. Vamos baralhar.

Li todos (e quando digo todos, digo todos), os testemunhos do fórum de Lisboa. Fui lendo e tirando notas. Vou de certeza plagiar. Espero que não muito. As minhas opiniões também estão incluídas, na perspectiva de quem fala por suposição.

A ver... se organizo esta desorganização.

Acolhimento. Excelente. Sorrisos, simpatia, boa disposição.

Expectativas. Quem não as tinhas, não ficou desiludido. Quem as tinha, viu-as superadas.

Regresso. Aderência total.

Eu não queria dizer nada, mas o fórum tem uns Srs. e umas Sras. que têm umas borrachas digitais, ou o queiram chamar-lhes, e essas borrachas têm poderes especiais (para rimar com digitais). Pois é, essas borrachas têm o poder de apagar uns quantos testemunhos que não se enquadrem na vibe do incentivo...

Nah, o pessoal das borrachinhas parece ser espectacular.

Receios. Ansiedades. À cabeça, o facto de não ir sozinho(a). Chego lá, não conheço ninguém... Começam a fazer-me perguntas, não sei o que dizer, não sei o esperam de mim... Desconforto. Ou então deixam-me lá para um canto e não me ligam nenhuma. Vão olhar-me de lado. Rejeição.
Timidez. Nervosismo. E se não me identifico com o grupo? Se me sinto deslocado(a), se não me consigo integrar?
Vergonha. Exposição. O que faço se encontrar na reunião uma cara conhecida? Se a caminho da reunião alguém me pergunta ‘Por aqui? O que andas a fazer?’
E se aquilo é um local de lamentação, onde vou encontrar apenas pessoas tristes e frustadas, ou um grupo de fanáticos que odeiam heteros?
Ou um local de engate?
Na volta é uma reunião apenas informativa, aborrecida, enfadonha. Alguém a bombardear-nos a mente com moralidades acerca de como o mundo vai e onde isto irá parar se continuar assim...

Os mais destemidos vão de peito cheio e com a cabeça bem erguida. Se lá vou é porque quero. Vou, e vou sem receios. Vou ouvir falar de algo que me interessa. Não quero falar, não falo, mas quero ouvir, e tenho esse direito. Vou conhecer pessoas, pessoas como eu, com quem partilho uma visão do mundo, uma forma de estar na vida, uma mente aberta, uma busca de informação.

Diz quem por lá passou e sempre voltou que são incluídos e integrados no grupo mal entram. Que lá encontraram simpatia, boa disposição e um ambiente relaxado e de convívio, acompanhado por um debate saudável, dinâmico e interactivo.

As raras experiências negativas, mas indiscutivelmente merecedoras de referência, não pormenorizam os porquês, mas deu para perceber que houve qualquer desentendimento com um dos participantes, que parece ter-se comportado de forma um pouco descontextualizada. Mesmo quem relatou uma primeira má experiência voltou, o que demonstra que não foi assim tão má.

Dois relatos despertaram o meu interesse. O da gaja que deixou o telemóvel no táxi. Também estou um pouco receosa que algo do género aconteça. Que a minha mãe me pergunte onde vou, apesar de já há alguns anos achar que a minha mãe sabe e estar à espera que ela me pergunte. Mas acho que o pior será se outra pessoa da minha família me perguntar. Acho que minto, simplesmente.

Outro relato foi o de alguém que escreveu no tópico da primeira reunião que ainda estava indecisa, que ainda não tinha ganho coragem. A sua mensagem foi de Março de 2006. Não encontrei mais mensagem nenhuma a dizer que tinha ido a uma reunião. Espero que tenhas ido. Se não foste, olha, também ainda não fui. Se quiseres combino contigo e vamos. Assim, já nenhuma ia sozinha... É pouco provável que leias este blog. Acho que vou enviar-te uma mensagem. Acho que o fórum permite isso.

Amizades Que amizade não é uma coisa instantânea, mas algo que se constrói durante a vida, todos concordamos. Por agora, interessa frisar que ninguém, pelo que li, criou inimizades. O resto, o tempo o dirá. E tem dito. Foram encontradas possibilidades de belas e duradouras amizades, e alguns até foram privilegiados ao encontrar por lá amor.


Se te identificas com esta organização, dá uma oportunidade a ti próprio(a). Eheh, ainda nem lá fui e já para aqui estou armada aos cucos...

E não me sentir integrada? De qualquer modo nunca me senti realmente integrada em parte alguma. Se me sentir bem, acho que até vou é estranhar...

E há sempre a possibilidade de nos virmos embora caso não nos sintamos bem. De certeza que se as portas não estão trancadas para quem entra, não estarão para quem quer sair... Pois, não tenho a certeza, é difícil de saber. Ao que parece, nunca ninguém se quis vir embora... E todos prometem voltar!

Está decidido. Vou! É que vou mesmo!! Umm... Um dia destes, com certeza. Qual, não sei bem ao certo.

Costuma dizer-se que quem começa a adiar não passa disso.

Já adiei tempo demais.

O que vale é que a localização geográfica já foi alterada. Quase toda a gente refere a rua que tiveram de subir... A minha imaginação voa imediatamente para uma típica e íngreme rua lisboeta, o escalar, o ai, nunca mais lá chego acima... Isto é mesmo para ver se desencorajam o pessoal. Felizmente, o parque das nações é a direito!

Por outro lado a subida de uma interminável rua lisboeta, que sobe do rio ao céu com uma inclinação mínima de 60º, para finalmente, ao fim de um longo e árduo esforço, se alcançar a porta assinalada pela bandeira das nossas convicções, dá sempre mais suspense à coisa!

Enfim, não há testemunhos desde o fim de Abril. Ai querem ver que o sou a única novata desde há 1 mês??? Ai, que já não vou...

CURIOSOS.

INDECISOS.

Se procuras esclarecimento, novas perspectivas, amizade, (auto-)compreensão, oportunidade de exprimires livremente quem és, aparece!

Verás que te sentirás melhor contigo próprio(a).

Ou não fosse o lema desta organização ajudar-nos a sentirmo-nos EX AEQUO!

Vemo-nos por aí ; )

Antes da minha primeira reuniao

Nunca consigo escrever o que quero. Começo a escrever com um intuito e acabo por tomar caminhos alternativos.

E pronto, lá tive de alterar o título para ‘1º passo – aceitação’. Pareceu-me mais apropriado...

O que eu queria escrever era acerca da primeira reunião.

Registei-me no fórum da rede ex aequo. Já tinha descoberto o site há uns dias (ou semanas, não consigo precisar) e tenho pensado em ir a uma reunião. Já tinha visto as datas, local, e etcs.

E hoje registei-me no fórum. E criei este blog.

Um dia produtivo, não tendo em conta que assumi que era feriado.

Precisava de ficar em casa para organizações e actualizações de papelada. A verdade é que do que precisava de fazer, não fiz nada. E isto desde as 11h da manhã, ou coisa que o valha.

Lá estou eu...

Queria ia a uma reunião, mas o facto é que sou uma pessoa muito tímida. Tenho uma capacidade enorme em expressar-me verbalmente. Qualquer falha de comunicação entre o meu cérebro e a minha língua. Algo em mim que quero mudar, algo em mim sobre o que me tenho debruçado.

E qual não é a eficiência, entro no fórum e, depois do tópico ‘cantinho dos novos membros’, me decido aventurar por voos mais altos.

Como a minha luta interior tem sido o agrupar de energias positivas para assistir à próxima reunião, escolho o tópico ‘próxima reunião’.

E logo me surge o tópico ‘Testemunho da minha Primeira Reunião’. É mesmo isto que preciso! Ainda não vos conheço, mas deixem-me atrever-me a dizer que já vos adoro. Quero dar uma vista de olhos às testemunhas, mas já agora que escrever o testemunho da decisão, os antecedentes do testemunho da primeira reunião.

Perguntas deixadas por quem iniciou o tópico:

- Qual o teu maior receio. Era válido?
- Tiveste alguma ansiedade quando te dirigiste a nós?
- Foste bem acolhido?
- A reunião realizou-se de acordo com as tuas expectativas?
- Fizeste amigos?
- Ficaste com vontade de regressar?

Algumas destas questões têm mais sentido se respondidas após a reunião, mas acho que posso tentar responder a algumas.

Gosto da sensação do antes e depois. Quero poder comparar.

O meu maior receio. Que me comecem a perguntar coisas, mesmo que simples. Que me peçam para falar. Detesto estar em situações em que não conheço ninguém. Não sei o que esperar, não faço ideia como serão as reuniões. As imagens que tenham na cabeça são inevitavelmente as imagens provenientes de reuniões em filmes americanos, grupos de apoio, quer seja de aa, de entre ajuda de pais que perderam filhos, ou outra situação dramática por que tenham passado os membros do grupo. E é sempre uma roda e calha a todos apresentarem-se e contar os seus problemas. Eu só quero que sejam filas de cadeiras, para poder ficar lá bem no fundo, quietinha, sem dizer uma palavra. Já não é muito fácil falar quando quero, porque acho que tenho qualquer coisa de importante para dizer. Quando me fazem falar então ainda é pior.

Ansiedades. Dúvidas. Será que vou mesmo? Pode ser que os testemunhos que quero ler não deixem as minhas parvalheiras impedir-me de ir. E vou sozinha. E não conheço ninguém. E vai ficar tudo a olhar para mim. E não vou encontrar nenhum buraco no chão para me enfiar. E vou começar a suar. E vou começar a ter dificuldades em respirar. Mas que estupidez!!! Às vezes fico espantada com a dimensão da minha estupidez. Pois, mas sou mesmo assim...

Bem acolhida. Acho que sim. Porque não? Ninguém me quer mal. Cada vez me convenço mais que as minhas ansiedades são absurdas. Porém, não consigo evitá-las. A adrenalina faz parte. O nosso coração precisa de emoções fortes, de abanões.

Não sei bem quais são as minhas perspectivas. Vou à descoberta. De olhos bem abertos.

Amigos. Se bem me conheço (não sou uma pessoa muita dada e anti-social é como melhor me conhecem), acho que vai ser difícil fazer amigos na primeira reunião. Ouvi um passarinho dizer que depois de me tornar amiga até sou fixe, mas antes disso tenho uma cápsula praticamente impenetrável. Outro aspecto que tem vindo a ser estudado e atenuado em mim e por mim.

Vontade de regressar. Ora, se achasse que não teria vontade de regressar, nem sequer lá punha os pés da primeira vez. Acho que vai ser uma experiência muito enriquecedora. Não posso esperar. Estou em pulgas.

E agora vou-me calar e vou (tentar) dormir.

Coisa difícil nos dias que correm.

Eu gosto é de sonhar, mas nem sempre me aparece por lá quem eu queria.

Friday 1 June 2007

1º Passo - Aceitaçao

O que fazer quando uma relação acaba?

O que fazer quando não se consegue encontrar esperança em nada, quando tudo perdeu o sentido?

Sempre gostei de escrever. E escrever era o que fazia.

Uma amiga falou-me do blogayesfera. Que se escrevesse um blog, já que queria escrever.

Acho que até me ri.

Não queria escrever um blog.

O sofrimento era meu. Só meu. E eu não queria ou sabia partilhá-lo.

E porque razão haveria eu de escrever um blog e inseri-lo na blogayesfera...

‘Acho que és gay, não?’

E eu ri-me, encolhi os ombros, e não voltei a pensar no assunto.

Só porque namorei com alguém do mesmo sexo que eu durante uma meis dúzia de anos sou gay???

Nunca sequer me apaixonei ou interessei por outra pessoa...

Não vou voltar a apaixonar-me...

Todos os meus amigos são hetero. Não conheço ninguém homo a não ser a minha ex-namorada, a irmã dela e a namorada dela.

Está bem que sempre fui chamada Maria-rapaz, que muitas vezes me confundem com o meu irmão, mas não sei... Não me identificava com a comunidade hetero, sentia-me deslocada. Mas também não me identificava com a comunidade gay, não me dizia nada. Para ser franca nem sabia que existia.

Isto foi algures em 2005.

Passados os dias, os longos dias, em que não fazia senão ficar prostrada na cama, chorar e escrever até à insanidade, voltei vagarosamente à vida.

Está decidido, não volto a apaixonar-me por uma mulher!

Posso perfeitamente ter um namorado. Todas as minhas amigas têm namorados. Tudo será bem mais fácil.

E foi então que, uns 14 meses depois de ter terminado o meu primeiro namoro, a conheci, a ELA.

Fui tão estúpida, estava tão decidida a que a ter outra relação seria com um rapaz, que nem me percebi. Ou se calhar não percebi porque nunca tinha passado por isto. A minha primeira relação foi com alguém que já tinha tido outra relação. Foi como que deixar-me levar, ser conquistada. Tudo parecia natural, mas talvez... não sei... Se calhar não percebi porque me estava a recusar a perceber. O nosso inconsciente gosta de pregar destas partidas.

Agora só queria estar com ELA, falar com ELA, vê-la, tocar-lhe, ouvir a sua voz, ouvi-la sorrir. Mas não tinha qualquer atracção sexual. Era como se uma bela amizade estivesse a começar.

E começámos a conhecer-nos melhor e eu não conseguia estar longe dela. Precisava de trabalhar e nada. Precisava de me concentrar, relatórios para escrever e nada. Só ELA, dia e noite na minha cabeça. E comecei a desejá-la, louca e incessantemente.

Pormenores à parte, as coisas não correram obviamente como eu desejava.
Mais 9 meses de desespero, de e-mails enviados sem resposta, à espera de uma palavra, de um sinal, de algo, de qualquer coisa. De uma ofensa, de um ‘não quero que voltes a tentar contactar-me, não quero voltar a saber de ti.’ Silêncio, silêncio é tudo o que recebo.

Este interminável, sufocante, angustiante SILÊNCIO!!!

O que sei eu acerca de quem sofre como eu?

O que sei eu acerca de quem sofre por ser como eu?

O que sei eu do mundo, se nunca quis saber?

O que sei eu?

Sei agora que não sou única.

Que há muitos como eu.

Que quero conhecer os que sentem o que sinto.

Que quero conhecer os que se sentem confusos em relação ao que sentem e tentar que as minhas desajeitadas palavras possam servir de apoio e conforto.

Que quero conhecer os que não compreendem o que sinto.

Que quero conhecer os que julgam o que sinto.

Que quero conhecer os que me amarão e os que me odiarão.

Que quero conhecer o mundo e juntar-lhe a minha voz.

Quero tentar perceber porque é tão difícil aceitar.

Quero mudar o mundo!

Sou apenas um insignificante ponto de luz neste mundo de escuridão.

Mas um ponto de luz ilumina, mesmo que quase imperceptivelmente, um pequeno espaço.

E muitos pontos de luz?
O que conseguirão muitos pontos de luz iluminar??

Consigo apenas imaginar.

E gosto do que vejo.

Calinadas

É que qualquer dia acordo para a vida e já não sei escrever português.

Farto-me de gozar quando pessoas hierarquicamente superiores a mim a nível profissional madam calinada atrás calinada a escrever português.

Só consigo pensar 'que vergonha, eu não quero ser assim...'. Mas já lá estou perto, não tenho dúvida nenhuma. Quero escrever uma simples frase e não sei como escrever a palavra mais vugar, mais fácil.

É que começo a sentir-me estúpida.

Não é que não me sinta muitas outras vezes por diversas outras razões.

Mas por esta não quero sentir-me.

E muito menos quero alguma vez ser gozada por dar pontapés na gramatica.

Pontapear por pontapear, que seja qualquer coisa de mais substancial!

Um exemplo: ao escrever a descrição do blog, queria escrever baboseiras.

Ora baboseiras, se queremos ler baboseiras, podemos escrever:

BABOSEIRAS

BABUSEIRAS

BABOZEIRAS

BABUZEIRAS

Há 25% de probabilidade de acertarmos. O que não é mau. Já 75% de probabilidade de falhar me parece menos aliciante. Tudo depende de quem acha que o copo está meio vazio e de quem acha que está meio cheio.

Eu, sinceramente, nunca pensei nisso. E agora também não me apetece pensar...

Ora, tem algum sentido que baboseira venha de baboso. Por alguma razão me parece lógico que ao dizer diaparates, uma pessoa se babe e, portanto... Lá está, não sei!

Poderá também vir de babu. E, realmente, o macaco babu diz umas quantas parvoíces. Acho eu, quer dizer, não faço a mínima que seja o babu. Mas macaco que é macaco... É macaco, coitado! É a figura que temos dos nossos antepassados. Quando não houver mais para evoluir, começamos a retroceder, e é lá que vamos parar.

Agora com z, não me soa. Sempre foi assim, mesmo quando era pequena, mesmo na escola. Quando não sabia como uma palavra se escrevia, escrevia as várias hipóteses a ver qual me parecia melhor. Se não gostasse do aspecto da palavra, escrevia de outra forma. O que vale é que estava quase sempre bem!

Como se escrever entao 'baboseiras'??

Alguém me ajuda?

Esclarece?

Com justificação, se não se importam.

Que isto chegar e mandar um bitaque tem que se diga. Bitaque tudo bem, mas justificadinho.

E bitaque? Como é que escreve?

Bem, agora não me vou pôr para aqui a fazer conjecturas e suposições cada duas palavras que escrevo.

Até porque ninguém lê este blog...

Devaneios de ternura

E eis que surge mais um blog.

Mais um, como outro qualquer, para juntar à lista. À interminável lista.

Vou escrever em português.

Apetece-me.

Às vezes tenho destas coisas.

Vá-se lá saber porquê...

Estou farta, estou cansada.
Não faço senão escrever em inglês.
Estou farta de tanta universalidade.
Nasci portuguesa e quero escrever português.
Desde o dia em que nascemos ouvimos que vangloriar tudo o que é 'estranja' e despresar tudo o que é luso.
Mas que raio, somos tão bons ou melhores que os outros.
Nascemos numa terra abençoada, que tem tudo para ser melhor, muito melhor.
Mas o que é estrangeiro é que é bom.
Venham os 'estranjas' tomar conta disto tudo, modelar o país à sua bela vontade, enterrar as nossas tradições com campos de golfe.
Somos conhecidos pela nossa hospitalidade. Ora, isto para mim não é hospitalidade... É subversão!

Andar para a frente? Andaria, não fossem as mentes brilhantes deste país 'obrigadas' a emigrar!

Mas porque raio vim eu aqui parar?

Queria apenas deixar aqui umas linhas a explicar o surgimento de mais um blog.

Uma pessoa aprende outras línguas, com o inglês à cabeça. Vai para a faculdade e livros, só em inglês. Material de apoio? Pois, inglês... Não é que não existam traduções, mas além de preços exorbitantes, desculpem a xenofobia, mas se há coisa que me irrita é ler brasileiro.

Assumimos, por estas razões (e mais umas quantas, provavelmente), que sabemos inglês, até mais do que suficiente. Porque canganças temos sempre muitas. O estranja é que é bom, mas o belo do tuga é sempre mais esperto e sabe-a sempre toda. Depois saimos das nossas belas fronteiras para desscobrir o além-mar e deparamo-nos com a nossa insignificância.

Pois, é verdade que na escola só tive inglês do 7º ao 9º. É verdade que tenho boa capacidade de aprendizagem e com todos os filmes americanos que vi ao longo da vida e toda a música americana que ouvi, eu percebo practicamente tudo o que me dizem. E ler, também lá vai, na faculdade lê-se em inglês (e acho muito bem, nos dias em que não estou obsessivamente patriota).

Agora levanta-te e fala!

Falar? Ah, pois, também é preciso falar.

Pois é.

Falar.

Tem sido sempre o meu maior problema.

Um pequeno enorme problema de expressão.

Porque é que na escola não nos fazem falar??? É ler e escrever, escrever e ler. Precisamos de aprender a falar!

Outro problema do além-fronteiras é o coração. Esse sim, é estúpido que dói. Acha, não sei bem porque razão, alguém lhe meteu isso na cabeça, que sabe falar toda e qualquer língua. E depois é o cabo dos trabalhos.

Quando está tudo bem, inglês é a língua universal. Mais coisa, menos coisa, com muita paciência e boa vontade, a gente compreende-se. Vai-se compreendendo...

O pior é quando surgem as pequenas quezílias. Uma pessoa bem que tenta, bem que esforça, mas as palavras que nos vêem à cabeça, qual língua universal qual quê? Que isso dialetos de ternura é só na música. Quando chega ao que interessa, é uma salgalhada linguística que mete respeito.

Mas o coração fala toda e qualquer língua. E nós aprendemos também a falá-la, se a isso nos preposermos.

O amor é lindo.

Só é pena que se seja confundido com tantas outras coisas.