Friday 1 June 2007

1º Passo - Aceitaçao

O que fazer quando uma relação acaba?

O que fazer quando não se consegue encontrar esperança em nada, quando tudo perdeu o sentido?

Sempre gostei de escrever. E escrever era o que fazia.

Uma amiga falou-me do blogayesfera. Que se escrevesse um blog, já que queria escrever.

Acho que até me ri.

Não queria escrever um blog.

O sofrimento era meu. Só meu. E eu não queria ou sabia partilhá-lo.

E porque razão haveria eu de escrever um blog e inseri-lo na blogayesfera...

‘Acho que és gay, não?’

E eu ri-me, encolhi os ombros, e não voltei a pensar no assunto.

Só porque namorei com alguém do mesmo sexo que eu durante uma meis dúzia de anos sou gay???

Nunca sequer me apaixonei ou interessei por outra pessoa...

Não vou voltar a apaixonar-me...

Todos os meus amigos são hetero. Não conheço ninguém homo a não ser a minha ex-namorada, a irmã dela e a namorada dela.

Está bem que sempre fui chamada Maria-rapaz, que muitas vezes me confundem com o meu irmão, mas não sei... Não me identificava com a comunidade hetero, sentia-me deslocada. Mas também não me identificava com a comunidade gay, não me dizia nada. Para ser franca nem sabia que existia.

Isto foi algures em 2005.

Passados os dias, os longos dias, em que não fazia senão ficar prostrada na cama, chorar e escrever até à insanidade, voltei vagarosamente à vida.

Está decidido, não volto a apaixonar-me por uma mulher!

Posso perfeitamente ter um namorado. Todas as minhas amigas têm namorados. Tudo será bem mais fácil.

E foi então que, uns 14 meses depois de ter terminado o meu primeiro namoro, a conheci, a ELA.

Fui tão estúpida, estava tão decidida a que a ter outra relação seria com um rapaz, que nem me percebi. Ou se calhar não percebi porque nunca tinha passado por isto. A minha primeira relação foi com alguém que já tinha tido outra relação. Foi como que deixar-me levar, ser conquistada. Tudo parecia natural, mas talvez... não sei... Se calhar não percebi porque me estava a recusar a perceber. O nosso inconsciente gosta de pregar destas partidas.

Agora só queria estar com ELA, falar com ELA, vê-la, tocar-lhe, ouvir a sua voz, ouvi-la sorrir. Mas não tinha qualquer atracção sexual. Era como se uma bela amizade estivesse a começar.

E começámos a conhecer-nos melhor e eu não conseguia estar longe dela. Precisava de trabalhar e nada. Precisava de me concentrar, relatórios para escrever e nada. Só ELA, dia e noite na minha cabeça. E comecei a desejá-la, louca e incessantemente.

Pormenores à parte, as coisas não correram obviamente como eu desejava.
Mais 9 meses de desespero, de e-mails enviados sem resposta, à espera de uma palavra, de um sinal, de algo, de qualquer coisa. De uma ofensa, de um ‘não quero que voltes a tentar contactar-me, não quero voltar a saber de ti.’ Silêncio, silêncio é tudo o que recebo.

Este interminável, sufocante, angustiante SILÊNCIO!!!

O que sei eu acerca de quem sofre como eu?

O que sei eu acerca de quem sofre por ser como eu?

O que sei eu do mundo, se nunca quis saber?

O que sei eu?

Sei agora que não sou única.

Que há muitos como eu.

Que quero conhecer os que sentem o que sinto.

Que quero conhecer os que se sentem confusos em relação ao que sentem e tentar que as minhas desajeitadas palavras possam servir de apoio e conforto.

Que quero conhecer os que não compreendem o que sinto.

Que quero conhecer os que julgam o que sinto.

Que quero conhecer os que me amarão e os que me odiarão.

Que quero conhecer o mundo e juntar-lhe a minha voz.

Quero tentar perceber porque é tão difícil aceitar.

Quero mudar o mundo!

Sou apenas um insignificante ponto de luz neste mundo de escuridão.

Mas um ponto de luz ilumina, mesmo que quase imperceptivelmente, um pequeno espaço.

E muitos pontos de luz?
O que conseguirão muitos pontos de luz iluminar??

Consigo apenas imaginar.

E gosto do que vejo.

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